Desde que a temática da sustentabilidade entrou em discussão nos ambientes corporativos, muitos líderes buscam incansavelmente por meio de programas executivos, seminários e debates internos, como inserir a sustentabilidade no core business. Muitos tentam se inspirar nos cases de empresas que já percorreram este caminho e buscam o “passo a passo” para engajar colaboradores para pensarem seus projetos sob a ótica da sustentabilidade. É um belo esforço e um grande avanço se considerarmos que até há pouco tempo, era inimaginável ter este tema na agenda dos líderes brasileiros.
Mas, este movimento tem gerado na maioria das vezes, desgaste e uma certa decepção em não ver mudanças efetivas acontecerem no core business. Na maior parte dos casos, a sustentabilidade fica limitada a um projeto de responsabilidade social corporativa ou a uma área especifica que realiza ações pontuais em prol do equilíbrio ambiental, social e econômico. Por mais que a área de sustentabilidade e alguns poucos entusiastas da “causa” se esforcem, o máximo de resultado concreto costuma ser um relatório muito bem escrito, com fotos impactantes e um reconhecimento ou outro como “empresa referência em sustentabilidade”.
Tudo muito bacana, mas será que isso satisfaz os nossos líderes e os profissionais de sustentabilidade? Responder (com muito esforço) a um número significativo de indicadores não significa necessariamente que sustentabilidade esteja de fato, na estratégia do negócio. E que além do lucro, os impactos sociais e ambientais são levados seriamente em conta ao desenvolver um produto ou projeto. Buscar inspiração em empresas que já estão mais avançadas neste tema, é muito bom para dar ânimo e mostrar às equipes que é possível “se dar bem fazendo bem feito”. Mas, “copiar” os seus passos pode não dar muito certo. Por que? Porque falta uma reflexão profunda antes de pensar em “como inserir sustentabilidade no negócio”.
Esta reflexão é sobre o Propósito – O porquê da existência da empresa. Geralmente, os líderes responsáveis pelo planejamento estratégico, passam longos meses discutindo possíveis estratégias aliadas à missão, a visão e valores. Mas, esquecem de revisitar o Propósito. Como muito bem colocado por Joey Reyman(http://experience.hsm.com.br/posts/uma-teoria-para-o-proposito), a missão é o que a empresa faz, visão é para onde ela vai e propósito é o porquê ela existe. É a partir do posicionamento de qual é o propósito, que é possível pensar no que faz sentido para a empresa. Como por exemplo, quais as dimensões da sustentabilidade são relevantes e prioritárias para o negócio. E não adianta pensar no propósito de maneira isolada, ele tem que ser compartilhado e atrelado à performance das pessoas e da organização como todo. A diferença entre simplesmente ter um propósito organizacional e ter um senso de propósito comum, que é compartilhado entre stakeholders internos e externos, é que o propósito passa a ter legitimidade e fôlego para se tornar o grande fio condutor da estratégia da empresa.
Empresas com forte sentido de propósito compartilhado, tem muita clareza porquê existem, para onde vão e qual a sua contribuição no mundo. As razões delas ultrapassam a ideia de lucro pelo lucro. Como tem este posicionamento, fica muito mais fácil em falar e praticar a sustentabilidade. Faz sentido em se posicionar como uma empresa que tem a sustentabilidade no “core business”.
Um dos maiores desafios da gestão é mobilizar pessoas e recursos. Uma organização “sem propósito” gerencia pessoas e recursos, enquanto uma organização com propósito, engaja pessoas e mobiliza recursos. Esta é a grande diferença e ao meu ver, a causa raiz que explica porque tantas empresas bem-intencionadas não conseguem trazer a sustentabilidade para a realidade de seus negócios. Por não ter um propósito claro, compartilhado e conectado à performance dos colaboradores, não são capazes de mobilizar pessoas e recursos para construir algo que vá além dos resultados financeiros. Considerar a importância de rever os propósitos de uma empresa é reconhecer o poder que líderes e organizações possuem de impactar a sociedade de uma maneira positiva e significativa.