Os conceitos e termos técnicos mais importantes para entender o que está em jogo na cúpula do clima em Glasgow.
As negociações do clima já são complicadas o suficiente para quem entende do assunto, sem falar no público leigo. Preparamos um pequeno glossário dos termos e conceitos mais importantes para você entender o que está em jogo na COP26.
Acordo de Paris
Tratado firmado na capital francesa que estabeleceu como limite um aumento de 2°C na temperatura do planeta em 2100, mas preferencialmente 1,5°C, em comparação com níveis pré-industriais.
O tratado é vinculante e impõe obrigações a todos os 195 signatários, independentemente do nível de desenvolvimento econômico. É com base nessa meta de temperatura que são definidas as políticas nacionais voluntárias (chamadas de NDCs), que incluem redução de emissões e transição energética, entre outras medidas.
Adaptação
No contexto da mudança climática, a palavra se refere aos ajustes que já são ou serão necessários para lidar com os impactos de eventos climáticos extremos. Isso vai de adaptações à infraestrutura a eventuais deslocamentos populacionais.
Aliança dos Pequenos Estados Insulares
Coalizão que reúne ilhas e países com costa particularmente vulneráveis ao aumento do nível do mar. Os 39 integrantes incluem Barbados, Guiana e Cabo Verde. Eles negociam em bloco na conferência. Também conhecida pela sigla em inglês AOSIS (Alliance of Small Island States).
Artigo 6
É um dos pontos mais controversos das negociações do clima e está emperrado desde a cúpula de Paris, há seis anos. O Artigo 6 dispõe sobre o papel dos créditos de carbono na contabilidade de redução de emissões nacionais. Com suas florestas e amplo uso de energias renováveis, o Brasil seria um potencial beneficiário, pois poderia vender créditos para nações ricas.
É simples na teoria, mas existem vários obstáculos práticos travando o sistema, das metodologias para contar as emissões evitadas a mecanismos que impeçam uma dupla contabilidade – se o Brasil protege a floresta amazônica, ou usa a redução em suas metas ou a vende para outro país.
O tema é espinhoso, e pode não haver resolução na Cop26, repetindo o fracasso das negociação da cúpula de Madri, em 2019.
Captura e armazenamento de carbono
Tecnologia para capturar na fonte o CO2, como numa indústria ou numa usina, antes que seja despejado na atmosfera. O dióxido de carbono é isolado e transformado em líquido por meio de processos químicos. O CO2 pode ter dois destinos: reciclagem (em refrigerantes ou novos combustíveis) ou então enterrados em poços de petróleo esgotados. A tecnologia é promissora, mas ainda precisa comprovar sua viabilidade econômica.
CO2 equivalente
Diversos gases causam o efeito estufa, como metano e óxido nitroso. Para simplificar a conta, eles são convertidos na quantidade equivalente de CO2. Os totais de redução de emissões são sempre expressos em toneladas de CO2 equivalente.
COP26
Abreviação do nome oficial do evento, a 26ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. A reunião acontece em Glasgow, Escócia, entre 1 e 12 de novembro, e reúne representantes de 197 países.
Crédito de carbono
Ativo financeiro que representa uma tonelada métrica de CO2 que deixou de ser emitida ou foi retirada da atmosfera. Os créditos de carbono podem ser gerados por uma floresta preservada, por exemplo, e então vendidos para uma empresa ou país que queira contabilizá-los em sua meta de redução de emissões. A promessa é que esses créditos sejam negociados em mercados organizados.
Emissões
Na maioria das vezes, o termo é usado de forma genérica e se refere a toneladas de CO2 equivalente despejadas na atmosfera, mas ele também pode se referir especificamente a um outro gás causador do efeito estufa.
Emissões antropogênicas
Emissões de gases causadores do efeito estufa decorrentes da atividade humana. Sempre houve emissões naturais, causadas por decomposição de matéria orgânica ou incêndios florestais, mas elas são compensadas pela absorção do CO2 pelas plantas e pelos oceanos. O combate à mudança climática depende de reduzir as emissões antropogênicas.
Emissões negativas
Uma corrente científica afirma que apenas chegar à neutralidade de emissões não será suficiente para evitar as consequências mais graves do aquecimento global. Para isso, o planeta teria de entrar em déficit de CO2, desenvolvendo sistemas de sequestro de carbono e aumentando a área coberta por vegetação para retirar os GEE da atmosfera.
Escopos
As emissões causadas por empresas são divididas em três tipos. Trata-se de uma maneira de determinar quem é o “dono” das emissões. Para facilitar o entendimento, considere uma fábrica.
As emissões de escopo 1 são aquelas causadas diretamente pela atividade da companhia, como o CO2 emitido por uma chaminé ou pelos caminhões de sua frota.
O escopo 2 diz respeito à energia consumida pela empresa (caso venha de fonte não-renovável).
O escopo 3 é o mais abrangente e complexo, pois envolve toda a cadeia de valor da empresa, dos fornecedores aos consumidores. Ele inclui as matérias-primas (e seu transporte), o CO2 emitido pelos deslocamentos dos seus funcionários de e para o trabalho e geração de resíduos. O escopo 3 também abrange todas as emissões relacionadas ao uso do produto pelo cliente final em toda a sua vida útil. O escopo 3 é o mais difícil de calcular e em geral o responsável pela maioria das emissões associadas a uma empresa.
Fundo verde do clima
O objetivo do fundo é criar um mecanismo para que os países desenvolvidos, os grandes responsáveis pelas emissões históricas, paguem a conta da adaptação e mitigação das nações mais pobres. A ideia do fundo era financiar US$ 100 bilhões em projetos por ano, mas até aqui o total não passou de US$ 10 bilhões. O fundo será um dos temas centrais da COP26.
GEE
Gases causadores do efeito estufa. Segundo o protocolo de Kyoto, eles são dióxido de carbono (CO2), metano (MH4), óxido nitroso (N2O) e hexafluoreto de enxofre, além dos gases das famílias dos hidrofluorcarbonos (HFCs) e dos perfluorcarbonos (PFCs).
IPCC
Sigla em inglês para Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Fundado em 1988, é o órgão da ONU responsável por estudar as alterações no clima, seus impactos sociais e econômicos e também por sugerir respostas ao problema.
Neutralidade de emissões
O conceito básico é que não haja novas emissões líquidas de gases do efeito estufa. Isso pode acontecer de duas maneiras. Trocar carros a gasolina por carros elétricos é um exemplo (desde que a fonte da eletricidade que carrega as baterias seja renovável, é claro). Mas o petróleo continuará sendo usado por muito tempo – na aviação, por exemplo. Nestes casos, as emissões são neutralizadas por meio da compra de créditos de carbono.
NDCs
Sigla para nationally determined contributions, ou os compromissos voluntários assumidos pelos países para sua descarbonização. Depois do fracasso do protocolo de Kyoto, quando houve a imposição de obrigações, decidiu-se que cada país determinaria as metas apresentadas na cúpula de Paris. Como era de esperar, as propostas ficaram muito aquém do necessário. A solução foi forçar os governos a revisar suas metas a cada cinco anos. A versão mais recente dos compromissos brasileiros é alvo de duras críticas internacionais.
Níveis pré-industriais
Os cenários descritos no Acordo de Paris projetam o aumento da temperatura global em comparação com o período entre 1850 e 1900, nas primeiras décadas da Revolução Industrial. Foi a partir de então que a concentração de CO2 e outros GEE começou a aumentar dramaticamente. Antes da industrialização, havia 280 partes por milhão de CO2 no ar, em média. Em 2020, o total foi de 412,5 partes por milhão, segundo estimativa do governo americano.
Mitigação
Termo muito usado nos documentos oficiais. Refere-se à redução das emissões de CO2.
Offsets de carbono
Mitigação das emissões por meio de créditos de carbono. Uma empresa aérea, por exemplo, não tem como evitar a queima de querosene de aviação. A saída é comprar os créditos que neutralizem suas emissões. O sistema se baseia na compra e venda de créditos. Críticos afirmam que os offsets na prática são uma “licença para poluir” e atrasam a transição energética.
Protocolo de Kyoto
Finalizado em 1997, foi a primeira tentativa global de estabelecer controles sobre a emissão de gases do efeito estufa. Somente os países desenvolvidos estavam sujeitos a metas obrigatórias. Por causa do complicado processo de ratificação de cada signatário, o tratado só entrou em vigor oficialmente em 2005 — e sem a adesão dos Estados Unidos. Em 2015, foi suplantado pelo Acordo de Paris.
FONTE: www.capitalreset.com.br