A economia circular é um modelo econômico que propõe uma transformação na forma como produzimos e consumimos, com o objetivo de eliminar desperdícios e maximizar o reaproveitamento de recursos. Diferente do modelo tradicional baseado em extrair, produzir e descartar, a economia circular aposta na eficiência, na reutilização e na regeneração dos sistemas naturais.
Esse modelo tem ganhado cada vez mais destaque por seu potencial de reduzir impactos ambientais e aumentar a eficiência produtiva das empresas.
Neste artigo, você vai entender como funciona a economia circular, seus benefícios e como empresas podem aplicá-la na prática, com exemplos reais de reaproveitamento de resíduos industriais.
O que é economia circular?
A economia circular é uma alternativa ao modelo linear de produção. Em vez de extrair recursos naturais, produzir bens e descartá-los ao final de seu ciclo de vida, a economia circular propõe manter os recursos em uso pelo maior tempo possível.
Essa abordagem baseia-se na ideia de que os resíduos podem ser transformados em novos recursos, criando um ciclo contínuo de valor. O objetivo é reduzir a necessidade de extração de matéria-prima e minimizar os impactos ambientais ao longo da cadeia produtiva.
Como funciona a economia circular?
A economia circular funciona como um sistema regenerativo por design e intenção. Em vez de seguir o fluxo tradicional de extração, produção, consumo e descarte, esse modelo visa preservar o valor dos materiais, componentes e produtos pelo maior tempo possível, criando ciclos fechados de uso e reaproveitamento.
1. Design inteligente e circular
Tudo começa no design do produto. Na economia circular, os produtos são projetados para durar mais, ser facilmente desmontados, reparados, atualizados ou reciclados. Isso requer o uso de materiais recicláveis, modulares e não tóxicos, além de um olhar estratégico sobre o ciclo de vida do produto.
Exemplo prático:
Uma empresa de eletrodomésticos pode desenvolver um modelo de geladeira cujas peças são facilmente substituíveis e cujo acabamento é reciclável, facilitando reparos e reinserção no mercado de segunda mão.
2. Novos modelos de negócio
A economia circular impulsiona modelos baseados em uso ao invés de posse, como:
- Leasing (aluguel de produtos);
- Pay-per-use (pagamento pelo uso);
- Servitização (venda de serviço ao invés de produto).
Essas estratégias estendem a vida útil dos produtos e criam novos fluxos de receita.
Exemplo prático:
Em vez de vender lâmpadas, uma empresa fornece “iluminação como serviço”, assumindo a manutenção, reposição e eficiência energética do sistema.
3. Ciclos técnicos e biológicos
A economia circular opera com dois ciclos distintos:
- Ciclo técnico: mantém materiais como metais, plásticos e polímeros em circulação por meio de reutilização, remanufatura e reciclagem.
- Ciclo biológico: reintegra materiais biodegradáveis à natureza de forma segura, como resíduos orgânicos que viram adubo ou biogás.
4. Extensão do ciclo de vida dos produtos
Manutenção, recondicionamento e upgrade são práticas que evitam a obsolescência precoce. Isso diminui a demanda por novos recursos e reduz a geração de resíduos.
Exemplo prático:
Fabricantes de máquinas industriais podem oferecer planos de manutenção preventiva e atualizações modulares que prolongam o funcionamento do equipamento por décadas.
5. Logística reversa e tecnologia de rastreamento
A logística reversa garante que os produtos retornem à cadeia produtiva após o uso. Já o uso de tecnologias como blockchain, IoT e sensores inteligentes permite rastrear materiais e produtos, melhorando a eficiência do reaproveitamento.
Exemplo prático:
Empresas de embalagens implementam sistemas de devolução pós-consumo, com códigos QR que mostram ao consumidor onde devolver o material para reciclagem.
Princípios da economia circular
Além dos mecanismos operacionais, o modelo circular se apoia em três princípios fundamentais:
- Eliminar resíduos e poluição desde o início: produtos e processos são desenhados para evitar perdas e impactos desde sua concepção.
- Manter produtos e materiais em uso: por meio da reutilização, compartilhamento, manutenção, upgrade, remanufatura e reciclagem.
- Regenerar sistemas naturais: a economia circular não apenas busca reduzir impactos, mas também restaurar o meio ambiente, como no uso de agricultura regenerativa e compostagem de resíduos orgânicos.
Quais são os benefícios da economia circular?
A economia circular oferece uma série de vantagens estratégicas que vão muito além da sustentabilidade ambiental. Ao transformar a lógica de produção e consumo, ela gera ganhos econômicos, sociais e ambientais que fortalecem as empresas, beneficiam a sociedade e protegem o planeta.
Redução de custos e eficiência operacional
Empresas que adotam práticas circulares conseguem reduzir significativamente seus custos operacionais ao:
- Diminuir a dependência de matéria-prima virgem, muitas vezes sujeita à volatilidade de preços;
- Reduzir gastos com descarte e gestão de resíduos;
- Melhorar a eficiência dos processos por meio do reaproveitamento de insumos e da eliminação de desperdícios.
Exemplo prático:
Indústrias que reaproveitam sobras de produção como matéria-prima para novos produtos reduzem custos e aumentam a rentabilidade.
Sustentabilidade e menor impacto ambiental
A economia circular contribui diretamente para a redução da pegada ambiental das atividades humanas:
- Menos extração de recursos naturais, reduzindo a degradação de ecossistemas;
- Menos emissão de gases de efeito estufa, por meio da diminuição da produção primária e da valorização de materiais reciclados;
- Redução da poluição e do volume de resíduos enviados a aterros e lixões.
Essas ações estão em total alinhamento com os princípios abordados no nosso conteúdo sobre sustentabilidade.
Geração de novas oportunidades de negócios
O modelo circular abre espaço para inovação e criação de novos modelos de negócio, como:
- Economia do compartilhamento;
- Plataformas de revenda e reuso;
- Serviços de manutenção, recondicionamento e leasing de produtos.
Além disso, fomenta o surgimento de novos empregos verdes em setores como reciclagem, logística reversa, design circular e tecnologias limpas.
Exemplo prático:
Empresas que oferecem aluguel de equipamentos industriais ou de consumo conseguem fidelizar clientes e estender o ciclo de vida de seus produtos.
Como implementar a economia circular na sua empresa?
Adotar a economia circular em uma organização exige planejamento estratégico, engajamento interno e revisão de processos. A seguir, apresentamos um passo a passo estruturado para orientar essa transição de forma prática e eficiente:
Passo 1: Compreensão do conceito e engajamento da liderança
Antes de tudo, é essencial que os líderes da empresa compreendam o conceito de economia circular e estejam convencidos de seu valor estratégico. A alta liderança deve ser a patrocinadora da mudança, integrando a circularidade à visão de negócio e metas ESG.
Ações recomendadas:
- Realizar workshops internos de sensibilização;
- Incluir metas circulares nos planos de sustentabilidade e inovação;
- Comunicar a importância da circularidade para toda a organização.
Passo 2: Diagnóstico da cadeia produtiva
Mapeie toda a cadeia de valor da empresa para identificar pontos críticos de desperdício, consumo excessivo de recursos e potenciais oportunidades de reaproveitamento.
Ferramentas úteis:
- Análise de ciclo de vida (ACV);
- Inventário de resíduos;
- Avaliação de fluxos de materiais (MFA).
Objetivo: encontrar gargalos e áreas com maior potencial de transformação circular.
Passo 3: Redesenho de produtos, processos e embalagens
Revisite o design dos produtos e processos, priorizando soluções que prolonguem a vida útil dos materiais, facilitando a desmontagem, o reuso ou a reciclagem.
Ações possíveis:
- Projetar para desmontagem ou remanufatura;
- Substituir insumos não recicláveis ou tóxicos;
- Reutilizar resíduos como matéria-prima (ex.: escória, cavaco, efluentes).
Passo 4: Implementação de modelos de negócio circulares
Reveja o modelo de negócio atual e avalie oportunidades para inovar com base na circularidade. Isso pode significar vender serviços em vez de produtos ou adotar estratégias de leasing e logística reversa.
Modelos circulares possíveis:
- Produto como serviço (Product-as-a-Service);
- Plataformas de reuso e revenda;
- Programas de devolução ou troca de produtos usados.
Passo 5: Parcerias e inovação colaborativa
A economia circular raramente acontece de forma isolada. Estabeleça parcerias com startups, centros de pesquisa, fornecedores e clientes para desenvolver soluções colaborativas.
Exemplos de parcerias:
- Cooperativas de reciclagem;
- Empresas de gestão de resíduos industriais;
- Instituições de pesquisa aplicada (ex.: SENAI, Embrapii).
Passo 6: Mensuração de resultados e melhoria contínua
Estabeleça indicadores de desempenho para avaliar o progresso das ações circulares. Use esses dados para ajustar a estratégia, engajar a equipe e comunicar resultados aos stakeholders.
Indicadores comuns:
- Redução de resíduos (kg ou %);
- Economia de matérias-primas (toneladas ou R$);
- Aumento da taxa de reaproveitamento de materiais;
- Queda na pegada de carbono.
Passo 7: Comunicação e posicionamento ESG
Integre a economia circular ao posicionamento institucional da empresa, mostrando aos stakeholders (clientes, investidores, comunidade) o compromisso com inovação e sustentabilidade.
Sugestões:
- Relatórios de sustentabilidade com indicadores circulares;
- Campanhas de marketing verde com foco na circularidade;
- Certificações e selos ambientais relevantes.
Identificação de oportunidades dentro da cadeia produtiva
O mapeamento de processos produtivos é o ponto de partida para qualquer estratégia de economia circular. Ele permite visualizar o fluxo de materiais, energia e resíduos em cada etapa da operação, identificando oportunidades de redução de perdas e reaproveitamento de recursos.
1. Levantamento e documentação dos processos
O primeiro passo é mapear todos os processos da empresa, desde a entrada de matéria-prima até a entrega do produto final. Isso inclui:
- Fornecimento e transporte de insumos;
- Produção e transformação;
- Armazenamento e distribuição;
- Embalagem e descarte.
Ferramentas úteis
- Fluxograma de processos (SIPOC ou BPMN);
- Diagrama de fluxo de valor (VSM);
- Mapeamento de cadeia de suprimentos.
2. Identificação de entradas, saídas e perdas
Para cada etapa do processo, é necessário levantar:
- Entradas: materiais, água, energia, insumos auxiliares;
- Saídas úteis: produtos, subprodutos, coprodutos;
- Saídas não úteis (resíduos): sobras, refugo, efluentes, perdas energéticas, emissões.
Classifique os resíduos por tipo (sólido, líquido, gasoso), volume, frequência e destino atual.
3. Avaliação das causas dos desperdícios
Analise por que os resíduos estão sendo gerados. Isso pode estar relacionado a:
- Design do produto pouco eficiente;
- Processo produtivo ultrapassado;
- Falhas operacionais ou de controle de qualidade;
- Embalagens mal dimensionadas;
- Excesso de matéria-prima na etapa de produção.
Ferramentas de apoio:
- Diagrama de Ishikawa (espinha de peixe);
- Método dos 5 porquês;
- Auditoria de resíduos.
4. Identificação de oportunidades circulares
Com base nos dados mapeados, é possível identificar potenciais de reaproveitamento ou eliminação de perdas, tais como:
- Reutilização de água de processo em etapas menos críticas;
- Aproveitamento de resíduos como matéria-prima interna (ex: cavaco de metal);
- Venda ou troca de resíduos com outras empresas (simbiose industrial);
- Redesign do produto para reduzir consumo de insumos;
- Implementação de logística reversa para coleta de embalagens.
Dica: Priorize as oportunidades com maior volume, impacto ambiental ou custo.
5. Envolvimento de equipes multidisciplinares
Inclua profissionais da produção, manutenção, P&D, logística e sustentabilidade no diagnóstico. A visão integrada ajuda a encontrar soluções criativas e viáveis tecnicamente.
6. Registro e monitoramento contínuo
Transforme o mapeamento em um sistema vivo:
- Registre os dados em dashboards ou planilhas;
- Estabeleça indicadores de geração de resíduos, consumo de recursos e reaproveitamento;
- Atualize o diagnóstico regularmente, especialmente em momentos de expansão, modernização ou mudança de insumos.
Exemplo prático:
Uma indústria têxtil percebeu, por meio do mapeamento, que 12% dos tecidos cortados viravam sobras descartadas. Após revisar o layout de corte e implementar coleta seletiva desses resíduos, passou a reutilizar parte das sobras em novos produtos e a vender o restante como matéria-prima para outra empresa do setor calçadista.
Exemplos de empresas que adotaram a economia circular
Abaixo apresentamos cases reais de empresas que aplicaram esse modelo e tiveram sucesso. Sugerimos também a leitura do artigo Empresas que apostam na economia circular.
1. Braskem: química verde e resinas recicladas
A Braskem, gigante do setor petroquímico, vem investindo fortemente em economia circular por meio da:
- Produção de plástico verde a partir de etanol da cana-de-açúcar;
- Incorporação de conteúdo reciclado em suas resinas;
- Parcerias com recicladores e cooperativas para garantir o retorno dos resíduos plásticos à cadeia.
A empresa estabeleceu metas ambiciosas, como atingir 1 milhão de toneladas de produtos com conteúdo reciclado ou renovável até 2030.
Impacto: Redução da dependência de matéria-prima fóssil e valorização dos resíduos plásticos pós-consumo.
2. Natura: reaproveitamento de embalagens e logística reversa
A Natura é referência no uso de embalagens recicladas e recicláveis, com mais de 50% das embalagens plásticas sendo feitas com material reciclado. A empresa também opera sistemas de logística reversa para devolução de frascos, além de:
- Incentivar o refil de produtos para reduzir consumo de embalagens;
- Utilizar vidro e plástico com menor impacto ambiental.
Impacto: Redução no uso de materiais virgens e engajamento dos consumidores em práticas circulares.
3. Tramontina: valorização de resíduos metálicos
A fabricante de utensílios domésticos adota a lógica de ciclo fechado de metais, reaproveitando aparas e sobras metálicas do processo de produção para novos itens. Além disso:
- Investiu em plantas de reciclagem internas;
- Desenvolveu embalagens com menor uso de papel e plástico.
Impacto: Eficiência produtiva, menor geração de resíduos e valorização de materiais secundários.
4. Grupo Boticário: cadeia circular de embalagens
O Grupo Boticário implementou uma robusta estratégia circular:
- Criação da Plataforma de Logística Reversa para retorno de embalagens nas lojas;
- Adoção de embalagens refiláveis e recicladas;
- Uso de tecnologia para rastrear e reinserir materiais no ciclo produtivo.
Impacto: Redução de impacto ambiental, aumento da circularidade das embalagens e fortalecimento da marca sustentável.
5. Ambipar: economia circular como modelo de negócio
A Ambipar atua diretamente como provedora de soluções circulares, oferecendo:
- Revalorização de resíduos industriais;
- Reciclagem de materiais perigosos;
- Implantação de sistemas de reaproveitamento de água e insumos.
Além de atender empresas de diversos setores, a Ambipar também desenvolve produtos derivados de resíduos, como aditivos, materiais reciclados e soluções de reaproveitamento energético.
Impacto: Geração de valor econômico a partir de resíduos e ampliação da circularidade em clientes industriais.
6. Electrolux: eletrodomésticos como serviço
Em mercados europeus, a Electrolux tem experimentado o modelo de “appliance as a service”, no qual o cliente não compra, mas aluga equipamentos como lavadoras e geladeiras. A empresa se responsabiliza pela manutenção, upgrades e descarte adequado ao fim da vida útil.
Impacto: Prolongamento da vida útil dos produtos, menor geração de lixo eletrônico e fidelização do cliente.
Esses exemplos mostram que a economia circular não é apenas uma tendência ambiental, mas uma estratégia competitiva que gera eficiência, inovação e valor para todos os envolvidos.
Sustentabilidade empresarial e economia circular
A economia circular e as estratégias ESG (Environmental, Social and Governance) compartilham o mesmo objetivo: promover modelos de negócio responsáveis, resilientes e orientados para o futuro. Adotar práticas circulares é, portanto, uma forma concreta de colocar em prática os compromissos ambientais, sociais e de governança assumidos por empresas em sua jornada de sustentabilidade empresarial. Veja como esse alinhamento se dá em cada pilar do ESG:
E – Environmental (Ambiental)
A economia circular é uma das ferramentas mais eficazes para atingir metas ambientais, pois atua diretamente sobre os principais desafios ecológicos enfrentados pelas empresas:
- Redução da extração de recursos naturais por meio do reaproveitamento de insumos e reciclagem;
- Diminuição da geração de resíduos e da poluição, por meio da eliminação de descartes desnecessários e da logística reversa;
- Baixa emissão de carbono, ao reduzir processos produtivos intensivos e a necessidade de transporte de novas matérias-primas.
Impacto prático: Empresas que adotam economia circular avançam nos compromissos climáticos e ambientais previstos em relatórios de sustentabilidade, inventários de GEE e metas de neutralidade de carbono.
S – Social (Social)
A circularidade também gera impactos positivos no pilar social, ao promover:
- Geração de empregos verdes em setores como reciclagem, reparo, logística reversa e inovação circular;
- Fortalecimento de comunidades locais, por meio da inclusão de cooperativas de catadores, fornecedores regionais e programas de educação ambiental;
- Estímulo ao consumo consciente, educando consumidores e parceiros sobre o uso responsável de recursos.
Impacto prático: Empresas circulares constroem reputação positiva, melhoram a percepção de marca e fortalecem o relacionamento com stakeholders internos e externos.
G – Governance (Governança)
Incorporar a economia circular nas decisões estratégicas e operacionais demonstra maturidade em governança sustentável, com destaque para:
- Gestão de riscos ambientais e reputacionais, por meio de processos mais eficientes e transparentes;
- Cumprimento de exigências regulatórias e normas ambientais;
- Integração da circularidade nas políticas e metas ESG, com indicadores claros e prestação de contas transparente.
Impacto prático: A circularidade reforça a governança responsável, com ganhos em atração de investimentos, alinhamento a frameworks como GRI, SASB e TCFD, e melhor desempenho em ratings ESG.
Sustentabilidade empresarial e vantagem competitiva
Integrar economia circular ao modelo de negócio significa ir além da conformidade ambiental — é uma estratégia para gerar valor duradouro. Empresas que apostam nesse caminho se tornam mais resilientes a riscos, inovadoras e preparadas para um cenário regulatório e mercadológico cada vez mais exigente em termos de sustentabilidade.
Economia circular no Brasil: desafios e perspectivas
Embora a economia circular esteja ganhando força no Brasil, sua implementação em larga escala ainda enfrenta diversos desafios. No entanto, há avanços significativos tanto no setor público quanto no privado, com iniciativas que indicam um caminho promissor para a transição do modelo linear para o circular.
Políticas públicas e iniciativas governamentais
Nos últimos anos, o Brasil tem avançado na estruturação de marcos legais e programas que apoiam a economia circular, especialmente no contexto de resíduos sólidos e produção sustentável:
Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS – Lei nº 12.305/2010):principal referência legal, a PNRS institui diretrizes para:
- Responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;
- Logística reversa de resíduos pós-consumo;
- Incentivo à redução, reutilização e reciclagem de resíduos.
Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares): atualizado em 2022, o Planares reforça metas de:
- Aumento da reciclagem e compostagem;
- Erradicação de lixões;
- Fortalecimento de cadeias circulares e economia verde.
Programa Nacional de Logística Reversa:articula acordos setoriais e normas para produtos como pneus, eletroeletrônicos, lâmpadas, medicamentos e embalagens, promovendo o retorno desses itens ao ciclo produtivo.
Fomento via BNDES e Finep: o BNDES e a Finep têm financiado projetos voltados à eficiência de recursos, inovação sustentável e reaproveitamento de resíduos, especialmente no setor industrial.
Incentivos e apoio institucional
- Planos estaduais e municipais de resíduos sólidos vêm incorporando metas circulares;
- Sebrae, SENAI e CNI oferecem programas de capacitação e apoio técnico à circularidade em MPEs;
- A Aliança pela Inovação Circular e o CEBDS atuam como articuladores entre setor privado, governo e academia.
Barreiras para a implementação da economia circular no Brasil
Apesar dos avanços, ainda há obstáculos estruturais que dificultam a adoção em larga escala:
Baixa infraestrutura para coleta e triagem de resíduos
- A ausência de sistemas eficientes de coleta seletiva e logística reversa limita a viabilidade de reaproveitamento de materiais.
Falta de incentivos econômicos claros
- A ausência de políticas fiscais que valorizem produtos circulares ou penalizem os lineares reduz o atrativo econômico para as empresas.
Desconhecimento e baixa capacitação técnica
- Muitos empresários e gestores ainda têm pouco conhecimento sobre o potencial da economia circular, suas ferramentas e benefícios financeiros.
Pouca integração entre setores
- Falta de articulação entre indústria, recicladores, academia e governo dificulta soluções integradas e simbioses industriais.
Perspectivas e oportunidades
Apesar das barreiras, o cenário é promissor:
- A pressão do mercado e dos investidores por critérios ESG tem impulsionado empresas a repensarem seus modelos de negócio;
- Startups e cooperativas estão ganhando espaço com soluções de reaproveitamento, rastreabilidade e logística reversa;
- O avanço tecnológico e os compromissos de descarbonização devem acelerar a adoção de práticas circulares nos próximos anos.
O papel das empresas na transição para um modelo circular
As empresas têm um papel central na transformação do modelo econômico linear para o circular. Ao assumirem uma postura proativa, elas não apenas reduzem impactos ambientais e riscos regulatórios, mas também criam novas oportunidades de negócio, aumentam sua competitividade e fortalecem sua posição no mercado.
Essa liderança se manifesta principalmente em três frentes: inovação, parcerias estratégicas e investimento em tecnologia.
1. Inovação em produtos, processos e modelos de negócio
A inovação é a base da economia circular. Empresas que repensam seus produtos e operações conseguem reduzir desperdícios, gerar valor com resíduos e oferecer soluções mais sustentáveis aos clientes.
Como inovar:
- Redesign de produtos para facilitar manutenção, desmontagem e reciclagem;
- Criação de modelos de negócio circulares, como aluguel, leasing e produto como serviço;
- Ecoeficiência nos processos industriais, com uso racional de energia, água e insumos.
Exemplo prático:
Uma fabricante de móveis industriais pode desenvolver peças modulares com peças intercambiáveis e reutilizáveis, reduzindo a necessidade de descarte e facilitando a atualização dos produtos.
2. Parcerias e simbioses industriais
Nenhuma empresa implementa a economia circular sozinha. A construção de ecossistemas colaborativos — com fornecedores, clientes, startups, universidades e cooperativas — é fundamental para ampliar o impacto e viabilizar soluções circulares em escala.
Exemplos de parcerias eficazes:
- Cooperativas de reciclagem para garantir retorno de materiais pós-consumo;
- Startups de tecnologia para rastreamento de materiais, logística reversa e plataformas de compartilhamento;
- Universidades e institutos de pesquisa para desenvolvimento de novos materiais e soluções de reaproveitamento.
Exemplo prático:
Uma indústria química pode fechar parcerias com fornecedores e clientes para criar um ciclo fechado de embalagens, onde o resíduo de um se torna matéria-prima do outro (simbiose industrial).
3. Investimentos em tecnologias sustentáveis e rastreáveis
A digitalização e a tecnologia são grandes aliadas da economia circular. Investir em ferramentas que otimizam o uso de recursos, monitoram impactos e facilitam o reaproveitamento é um diferencial competitivo.
Tecnologias-chave:
- IoT e sensores para monitorar uso de insumos em tempo real;
- Blockchain para rastrear origem, uso e reaproveitamento de materiais;
- Plataformas de logística reversa e marketplaces de resíduos;
- Automação e manufatura aditiva (impressão 3D) para customização e menor geração de refugo.
Exemplo prático:
Uma empresa de eletroeletrônicos pode usar sensores para prever falhas em equipamentos e oferecer serviços de manutenção preventiva, prolongando sua vida útil e reduzindo descarte.
Resultado: empresas mais resilientes e preparadas para o futuro
Ao liderarem a transição para a economia circular, as empresas:
- Atendem às exigências de investidores e consumidores por critérios ESG;
- Reduzem custos e riscos associados ao uso excessivo de recursos;
- Inovam de forma sustentável, criando diferenciais de mercado.
Essa liderança também contribui para o desenvolvimento de políticas públicas mais eficazes e para o fortalecimento da economia verde no Brasil.
A economia circular representa uma transformação essencial no modo como produzimos, consumimos e gerenciamos recursos. Ao substituir o modelo linear — baseado em extração, uso e descarte — por ciclos de reaproveitamento, reutilização e regeneração, as empresas podem:
- Reduzir custos operacionais com reaproveitamento de materiais e eficiência nos processos;
- Minimizar impactos ambientais, diminuindo a extração de recursos naturais e a geração de resíduos;
- Criar novas oportunidades de negócio, como serviços circulares e inovação em produtos;
- Fortalecer sua posição no mercado, alinhando-se às expectativas de clientes, investidores e regulamentações ESG;
- Contribuir ativamente para uma sociedade mais sustentável e consciente.
Empresas que lideram essa transição com inovação, parcerias estratégicas e investimento em tecnologias sustentáveis estarão mais preparadas para os desafios e oportunidades do futuro.
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